O PP gaúcho se movimenta rápido para definir ainda em 2021 a chapa majoritária que pretende encabeçar nas eleições de 2022 no Estado. Para tanto, toma distância dos atuais aliados tucanos, deu início a conversações com lideranças do PSD, PL, Republicanos e Avante e vai pleitear o apoio do PTB. Cogita também a possibilidade de receber em seus quadros alguns dos petebistas que deixarão o partido após o rompimento com o presidente nacional da sigla, Roberto Jefferson. E tenta se tornar o único palanque do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no RS. Os trabalhos, nos bastidores, incluem movimentações para desidratar a pré-candidatura do ministro Onyx Lorenzoni (DEM), que também quer ser governador. Além da preferência presidencial, o objetivo é evitar pulverizações consideradas pelos progressistas como desnecessárias, já que o alinhamento ideológico entre PP e DEM em solo gaúcho faz com que disputem as mesmas fatias do eleitorado.
No PP, o pré-candidato ao governo está definido desde 2018: será o senador Luiz Carlos Heinze. Naquele ano, após uma costura de coalizão traumática com o PSDB no RS que culminou com a retirada da candidatura de Heinze ao governo, ele venceu a eleição para o Senado com um montante de votos superior ao obtido no primeiro turno por Eduardo Leite, o então candidato ao governo pelo PSDB que o PP apoiou. Heinze assegura que está, neste momento, focado em ações relacionadas ao combate à pandemia do coronavírus. Mas é taxativo: “Temos que resolver isto (a definição da aliança e da chapa majoritária no RS) neste ano. Não dá para esperar o ano que vem.”
Sobre a possibilidade de uma composição com o DEM, para além das siglas com as quais a legenda já ensaia conversações sobre aliança, o senador informa já ter falado com Onyx. “Ele também está decidido a concorrer, e nós respeitamos. É uma costura que ainda precisará ser feita, claro. Mas, no meu entendimento, o presidente Bolsonaro dificilmente terá dois ou três palanques no RS. E o meu apoio já está fechado: será para o Bolsonaro, independente de quem ou quantos forem os candidatos à presidência.”
Com uma experiência de décadas na condução das articulações do PP gaúcho, o presidente estadual, Celso Bernardi, confirma que o objetivo é deixar a chapa para 2022 pronta neste ano, e diz que gostaria que “as forças de centro e centro-direita estivessem junto” com o partido. Questionado sobre o DEM, admite a importância das semelhanças “em termos doutrinários”, e assegura que o PP tem o maior respeito pela decisão de Onyx, mas ressalva: “Gostaríamos muito de contar com ele.” O dirigente também avalia que, hoje, as possibilidades de uma nova aproximação com o PSDB ou o MDB são exíguas. Para Bernardi, o PP já arranca com uma certa vantagem na relação com a candidatura de Bolsonaro, não apenas pela proximidade de Heinze, mas também devido ao cenário nacional, que passa pelo amparo dos progressistas ao governo na Câmara dos Deputados e no Senado.
É do PP, e foi eleito dentro de uma articulação que contou com o apoio aberto do governo federal, o atual presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP/AL). Lideranças do PP gaúcho admitem que processo idêntico levou Rodrigo Pacheco (DEM/MG) à presidência do Senado, mas consideram que o alinhamento de Lira é mais “sólido”. Nas últimas semanas, o DEM teria perdido pontos no quesito confiança com Bolsonaro também em função das conversas mantidas nacionalmente com o PDT e seu pré-candidato à sucessão presidencial em 2022, Ciro Gomes. “O partido ao qual o presidente vai se filiar também vai adicionar mais fatores nesta equação”, adianta Bernardi.
Para a composição da coalizão local, assegura o dirigente, o PP mantém na mesa as vagas de vice na chapa e da candidatura ao Senado. A segunda é pleiteada internamente pelo deputado federal Jerônimo Goergen e pela atual secretária extraordinária de Relações Federativas e Internacionais do governo gaúcho, Ana Amélia Lemos. “A ex-senadora tem um alto grau de respeitabilidade. E o deputado comunicou ao partido sua intenção de disputar a vaga. Mas, para ganhar a eleição e governar, é preciso fazer alianças”, resume Bernardi.
“Se os partidos da coligação forem todos menores, manterei minha pré-disposição em disputar o Senado. Mas não serei obstáculo”, diz Goergen, que também considera que o pleito de 2022 no Estado estará bastante atrelado à eleição nacional. “Na política tudo pode sempre mudar rápido. Mas, hoje, nacionalmente, não vejo possibilidade de essas candidaturas chamadas de centro darem certo. Elas não produzem mobilização. No RS, o Heinze, que será nosso candidato, estará completamente atrelado ao presidente Bolsonaro. E o eleitor de direita, entre Lula e Bolsonaro, ficará com Bolsonaro”, projeta o parlamentar.
Apesar das considerações de Goergen e de Heinze, para parte do PP gaúcho uma vinculação excessiva de Heinze ao presidente gera intranquilidade. Esta parcela do partido teme que uma série de fatores, nos próximos meses, possa atingir com força a densidade eleitoral de Bolsonaro, e respingar muito nas candidaturas estaduais. Entre os fatores mais citados estão a evolução da vacinação, o avanço das apurações da CPI da Covid no Congresso, a situação da economia, a imagem internacional em diferentes áreas e o futuro das relações com os Estados Unidos.
Flavia Bemfica - Correio do Povo
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