Cinco dias após se salvar do naufrágio da lancha que tripulava no mar do Caribe, a brasileira Dulce Blank conversou com o G1 por meio de aplicativo de celular nesta quinta-feira (28). Ainda sob efeito de tranquilizantes, a gaúcha natural de São Lourenço do Sul relatou os momentos de pânico que viveu no acidente de sábado (23), e relacionou o fato de estar viva a um milagre.
Havia 34 pessoas na embarcação. Treze morreram e 21 sobreviveram. O corpo de uma criança segue desaparecido, segundo a imprensa local. O capitão da lancha foi preso, e autoridades dão sequência à investigação.
Para Dulce, o acidente foi uma fatalidade. "Buscar culpados não resolve. Foi uma fatalidade do clima. Culpar alguém não vai trazer ninguém de volta", salienta a brasileira.
A lancha navegava entre Corn Island e Little Corn Island, duas ilhas paradisíacas da Nicarágua, no mar do Caribe. A imprensa local noticiou, após o acidente, que os fortes ventos contribuíram para a embarcação virar.
Dulce lembra que, quando os passageiros embarcavam na lancha, o mar estava calmo. "Chegando lá o tempo mudou, começou a chover e a ventar", relata. "Ninguém poderia imaginar... apavorante. Quando começamos a navegar, o mar estava muito agitado", recorda.
A brasileira estava na primeira fila. "As ondas batiam na gente. Vimos que a panga [lancha] não tinha controle. Numa dessas ondas, virou a panga (...) Parecia filme de maremoto, ondas de três a quatro metros. O pessoal que vinha atrás conseguiu sair e se agarrar no motor. Nós, da frente, ficamos embaixo do barco", lembra.
Dulce foi uma das passageiras que ficou embaixo do barco. Ela conta que conseguiu segurar uma corda que fica presa na frente da lancha e, em seguida, se agarrou na embarcação. Foram cerca de duas horas, de acordo com ela, até alguém aparecer para prestar socorro.
"Todos gritavam desesperados e se agarravam uns aos outros. Da frente, praticamente ninguém se salvou", recorda, citando que todos os passageiros usavam coletes salva-vidas.
Naquele momento, Dulce diz que só pensava na família. Com ela em Santa Ana, na Costa Rica, onde fixou residência, moram os três filhos: Mauro Aurelio, Liliane e Henrique. Outros familiares seguem no Brasil, como a mãe, dona Leni, que vive em São Lourenço do Sul.
Assim que conseguiu um computador emprestado, Dulce conseguiu avisar os filhos que estava bem. O celular que ela tinha, se perdeu na água.
Barco pesqueiro ajudou no resgate
O capitão de um barco pesqueiro que já havia passado pelo local do acidente, acabou retornando e se deparou com a lancha virada. Ele parou para socorrer as vítimas.
"O capitão [do barco pesqueiro] nos contou que algo interno dizia para ele voltar, e ele não sabia porque... Mas foi quando ele voltou que nos viu", lembra. "Não se explica porque ele passou por ali, foi enviado por Deus, verdadeiramente", completa.
Imediatamente após o resgate, os sobreviventes foram levados para a clínica da ilha. Porém, uma imagem ainda ronda a mente de Dulce. "A parte difícil foi estarmos com os falecidos do nosso lado e reconhecer os corpos". A brasileira conta que tinha amizade com diversas pessoas que estavam na embarcação e já havia viajado com algumas delas outras vezes.
"A ilha é um paraíso, falaram que nunca havia passado algo assim", diz.
Durante o atendimento, Dulce lembra que os pacientes receberam diversas doações dos moradores da região. "Levaram roupas, comida, água. O povo da Nicarágua é incrível, deram muito apoio, muito carinho", lembra.
"O governo da Costa Rica e da Nicarágua foram incríveis também, o presidente da Costa Rica mandou avionetas para o regresso", conta.
Amante de viagens e da natureza, Dulce aguarda o trauma passar. Apesar do susto que passou, acredita que voltará a navegar. "Amo o mar. Não posso falar que não volto", afirma.
Diretora do Centro de Estudos Brasileiros, Dulce volta ao trabalho nesta quinta-feira (28). Segundo a mãe dela, a brasileira é muito querida por todos na Costa Rica. (G1-RS)
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