"Defender a vida, combater o agronegócio”; mensagem no material de divulgação de aula inaugural gerou divergências dentro da comunidade acadêmica.
Uma frase utilizada na divulgação da Aula Inaugural da 6ª Turma Especial de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) gerou polêmica na comunidade acadêmica.
O evento aconteceu na segunda-feira (22). A mensagem “Defender a vida, combater o agronegócio”, presente na arte, causou indignação em parte da comunidade universitária e motivou a divulgação de notas de repúdio por diretórios acadêmicos de cursos da área de Ciências Agrárias, como Agronomia, Zootecnia e Engenharia Agrícola.
As Turmas Especiais de Medicina Veterinária são financiadas pelo Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), vinculado Ministério do Desenvolvimento Agrário. São formadas exclusivamente por jovens e adultos moradores de assentamentos reconhecidos pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Conforme o professor Luiz Felipe Schuch, coordenador do convênio entre o Pronera e a UFPel, a frase divulgada não tinha ligação direta com a Aula Inaugural, mas fazia referência ao tema da XII Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária (Jura), que foi aberta oficialmente na mesma ocasião.
O tema da aula, segundo ele, era "Reforma Agrária Popular e Questão Ambiental". Mas as duas informações foram colocadas no mesmo material de divulgação:
— É uma questão da interpretação de cada um. A gente trabalha com a prioridade da defesa da vida e do meio ambiente, e esses são os temas que a gente busca no processo de formação para a agricultura familiar — disse Schuch.
A organização da Jornada também se manifestou, via Instagram, dizendo que entende o agronegócio como modelo de produção caracterizado por "concentração de terras, uso intensivo de agrotóxicos, exploração do trabalho e destruição do meio-ambiente".
Para o professor da Faculdade de Agronomia Maurício de Oliveira, o conceito de agronegócio foi utilizado de forma equivocada:
— Produzir alimentos é agro, o agricultor é agro. Então há um erro conceitual. O agronegócio não é ruim, não faz mal. Ele abrange tudo. Essa linguagem não pode acontecer. Combater, pra mim, significa exterminar, acabar. Da forma como foi colocado, soou como um desrespeito aos agricultores e a quem produz alimentos.
Porém, as turmas especiais trabalham com um conceito diferente de agronegócio, diz Luiz Felipe Schuch:
— Há quem insira a agricultura familiar dentro da ideia de agronegócio, mas a sociologia rural não a reconhece como equivalente.
Oliveira ainda destacou que a forma como o assunto foi apresentado deu a entender que a UFPel apoiava a proposta.
— Isso acaba afetando a imagem da Faculdade de Agronomia, porque dá a impressão de que todo mundo quer combater o agro. E, na verdade, aqui a gente está formando pessoas para atuar no agro.
Reitoria não foi consultada
Em entrevista a GZH, a reitora da UFPel Úrsula Silva disse que a Reitoria não foi consultada sobre a publicação do material e que só tomou conhecimento após o início da polêmica.
— Deveríamos ter sido consultados sobre isso. A Universidade possui regras para o uso da marca, mas, às vezes, as pessoas usam sem fazer essa consulta. Com certeza teríamos chamado a atenção, porque o foco não é colocar uma comunidade contra a outra.
Diante da repercussão, a UFPel também publicou uma nota, em que afirmou seu compromisso com a pluralidade de ideias e destacou que seus cursos da área de Ciências Agrárias contribuem tanto para a agricultura familiar quanto para o agronegócio, reconhecendo a importância de ambos os segmentos.
Um Denúncia sobre o fato foi protocolada ao MPF e ao TCU através de uma representação contra a UFPel após evento com o lema “Defender a vida, combater o agro”.
A ação partiu do deputado estadual Marcus Vinicius Almeida (Progressistas):
"Universidades públicas não podem ser palco de militância ideológica financiada com recursos de todos os brasileiros. Educação deve formar cidadãos e profissionais para o futuro, não dividir a sociedade", destacou o deputado.
"Na tribuna (da Assembleia), deixei claro: sem agro não há vida, sem vida não há futuro. Defender o agro é defender o Brasil", falou.
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