A primeira vez que ouvimos falar de Bitcoin, quase sempre é a mesma história: alguém mostra o gráfico exponencial, fala de milionários precoces e promete um futuro de Lamborghinis e Ferraris na garagem.
Esse apelo é natural. Vivemos em uma sociedade adoecida pela inflação, onde o Estado rouba silenciosamente nossa poupança e ainda tem a ousadia de chamar isso de “política monetária”. É normal que o desejo inicial seja escapar da corrida dos ratos. Entramos pela ganância.
Mas se fosse apenas isso, o Bitcoin já teria morrido como tantas modas sem propósito. O que explica por que, mesmo após quedas brutais de 80%, milhões permanecem convictos, estudando e defendendo essa rede, não é a promessa de riqueza. É a moralidade.
Do bolso para o coração
Esse é o arco típico do bitcoiner: entramos pelo bolso, ficamos pelo coração. O Lamborghini é piada; a ética, fundamento. O que está em jogo não é só riqueza individual, mas o resgate da honestidade, da poupança, da liberdade diante de um Estado que normalizou o roubo via inflação.
O Bitcoin exige disciplina, autocustódia e visão de longo prazo. Ele ensina responsabilidade de uma forma que nenhuma sala de aula jamais ensinou. É uma escola moral travestida de código.
O choque da realidade: o dinheiro está podre
Quando estudamos a natureza do dinheiro, a ficha cai. Rothbard mostrou que o monopólio estatal da moeda é um saque institucionalizado. Hülsmann chamou a emissão fiduciária pelo nome certo: fraude oficializada. E em Thank God for Bitcoin, os autores lembram que dinheiro corrompido não é só ineficiente — é uma tragédia moral que destrói famílias, igrejas e civilizações inteiras.
Roma floresceu quando tinha um padrão monetário sólido, mas mergulhou em séculos de decadência quando começou a adulterar suas moedas com cobre. Durante o Renascimento, cidades como Florença e Veneza prosperaram porque suas moedas eram fortes, baseadas em ouro e prata. A Belle Époque, no final do século XIX, foi talvez o auge da civilização ocidental, sustentada pelo padrão-ouro. Em todas essas eras, dinheiro sólido produziu arte, ciência, tecnologia e beleza. O fiat, em contraste, sempre trouxe guerra, inflação, miséria e tirania.
O Bitcoin como contraponto moral
Nos “eventos crypto”, muitas vezes vemos gurus vendendo cursos de como multiplicar dineiro, alavancagem irracional, ostentando um lifestyle irreal de Instagram e sendo aplaudidos por plateias que mais parecem adictos celebrando a próxima pedra no cachimbo. Pouco se fala de caridade, de construir algo útil, de ética e moral.
Foi exatamente nesse cenário de putrefação fiduciária que surge o Bitcoin. Ele não é só mais uma moeda: é dinheiro justo. Sua oferta limitada a 21 milhões não depende de político ou banqueiro central. Seu funcionamento não exige confiança, apenas matemática e descentralização. Sua política monetária é previsível, transparente, imutável.
E, acima de tudo, o Bitcoin muda o comportamento humano. Como mostra Saifedean Ammous em O Padrão Bitcoin, sociedades que adotam dinheiro sólido reduzem a preferência temporal. Passam a pensar no futuro, a poupar, a construir catedrais em vez de consumir futilidades descartáveis. Dinheiro sólido cria civilização; dinheiro fiduciário destrói.
A mutação psicológica do bitcoiner
O dinheiro é uma ferramenta, e nenhuma ferramenta tem poder moral, ele pode ser bom ou ruim de acordo com o que você irá fazer com ele. E é justamente aí que o Bitcoin começa a parecer diferente de tudo.
A transformação não é só econômica ou filosófica. Ela é psicológica. Bitcoin muda sua química cerebral ao permitir o que o dinheiro foi feito para fazer: ajudar pessoas, inclusive a si mesmo.
De repente, ter uma lamborghini perde o sentido, até mesmo pagar quatro dólares por um café deixa de ser banal — porque você começa a calcular o custo de oportunidade em satoshis e a gritar por dentro com o desperdício. Você nunca mais será normal. No máximo, encontrará outro mutante que também sabe o que é uma seed phrase e não olha para você como se fosse um lunático quando você explica que até Wall Street terá que se curvar.
Essa mutação é irreversível. Você trocou a ilusão confortável pela condenação lúcida. Não está mais nisso por Lambos, iates ou qualquer caricatura de riqueza. Está nisso pelo privilégio de testemunhar, em tempo real, a implosão do sistema fiduciário — e sorrir, café na mão, porque sabe que se preparou.
E um dia dirá aos seus netos:
“Sim, eu estava lá quando o dinheiro morreu. E aproveitei essa chance para melhorar o mundo em que vocês viveriam.”
O chamado ético
Por isso, quando alguém diz “vocês só querem ficar ricos”, sorrimos. Porque sabemos que, sim, muitos entram por esse motivo, mas só permanecem aqueles que enxergam o verdadeiro sentido: o Bitcoin não é sobre enriquecer, é sobre libertar.
Lamborghinis envelhecem, iates apodrecem. Mas a verdade é antifrágil.
Não é só tecnologia, é ética. Não é só investimento, é civilização.
E é por isso que ele não vai embora.
Fonte: Felipe Ojeda
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