sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

O assalto de Criciúma e o papel da imprensa no debate sobre Segurança Pública

 As redes sociais e os meios de comunicação gaúchos, foram invadidas, nesta sexta-feira (04), pelas repercussões a respeito dos comentários dos jornalistas Davi Coimbra e Kelly Matos, sobre o assalto acontecido na Cidade de Criciúma, na última terça-feira (01). Ao tratar da ação dos criminosos, os jornalistas fizeram comentários “engraçadinhos” sobre os bandidos, louvando a dita “consciência” da quadrilha que aterrorizou a população da cidade durante toda a noite.

Como resultado do assalto, tivemos um policial gravemente ferido, que continua na UTI com sua vida ainda em risco. Esse fato é tratado pelo dublê de comentarista e jornalista, Davi Coimbra, com o seguinte comentário: “É verdade que um policial e um vigilante levaram um tiro. Mas, se não houvesse intervenção, sairia tudo na boa”. Essa declaração foi dita em meio a uma série de asneiras do referido jornalista. A maioria delas com o claro propósito de fazer gracinhas e parecer “descolado”. “Vamos supor que todos os assaltantes fossem assim como esses: organizados, com método e respeito pelo cidadão” e “Eu quero que o pessoal que assalta as pessoas no carro, que entram em casa, tomem consciência e sejam como os caras de Criciúma. A ação tem que ser pra outros alvos”, foram outras pérolas ditas por Davi Coimbra.

Esse tipo de comentário se torna particularmente perigoso, ao tentar glamourizar atitudes criminosas que colocaram em risco a vida de toda uma cidade. Um crime como o que ocorreu em Criciúma, coloca em risco a própria ordem democrática, pois, além de colocar a vida da população em risco, teve como objetivo impedir a ação das forças de segurança. O quartel da Polícia Militar foi alvejado por bandidos armados com fuzis capazes de derrubar um helicóptero, além de explosivos poderosos e um forte aparato armado. Isso, por si só, deveria ser tratado como um atentado ao estado de direito. Porém, de forma leviana e irresponsável, o Sr. Davi Coimbra diz que esses bandidos deveriam servir de exemplo para outros assaltantes. O jornalista do grupo RBS já deveria ter aprendido que: quando as forças de segurança são colocadas em risco, é a própria vida em sociedade que é colocada sob ameaça.

Os comentários do Programa Timeline são apenas a face mais escrachada da total indigência da nossa imprensa quando o assunto é Segurança Pública. Com raríssimas exceções, o quadro é de total desconhecimento, para informar e debater soluções para esse que é, talvez, o maior problema da sociedade brasileira. Quando não apelam para os instintos mais primários da sociedade, clamando por justiçamento e mais violência, os jornalistas partem para tratar a Segurança Pública como mais um item no seu cardápio de entretenimento, tentando parecer engraçados.

O que deixou de ser debatido sobre o assalto de Criciúma

Se os meios de comunicação tivessem a disposição de, realmente, utilizar o que aconteceu em Criciúma, para fazer um debate produtivo sobre segurança Pública, algumas informações teriam que ser colocadas para o público. Por exemplo, seria muito importante investigar a experiência da Polícia gaúcha, que enfrentou, durante o governo Sartori, uma onda de assaltos no estilo “Novo Cangaço”. Naquele momento, onde se vivia uma grave crise da Segurança Pública, com um grande aumento dos índices de criminalidade, cidades inteiras eram feitas de reféns por bandidos fortemente armados. A sensação era de impotência.

No entanto, a partir de um trabalho bem feito, de investigação e inteligência, começaram a ser desbaratadas várias quadrilhas especializadas nesse tipo de assalto. A maior parte dos líderes dessas quadrilhas se encontra presa atualmente. Porém, um trabalho sério de investigação necessita de investimento público. Talvez, seja esse o debate que o grupo RBS não queira fazer. Na Segurança Pública não existe solução mágica. Qualquer política séria, precisa vir acompanhada de investimento público, coisa a qual a nossa imprensa tem ojeriza de admitir.

Outra questão importante, colocada quando do debate sobre o Novo Cangaço no nosso estado, diz respeito à parcela de responsabilidade das instituições bancárias, na prevenção desse tipo de crime. Não podemos admitir que apenas o Estado seja responsável em garantir a segurança, de um setor que é o que mais lucra no nosso país. Os bancos também têm que adotar medidas de segurança, que sirvam para inibir esse tipo de assalto. Algumas medidas simples foram levantadas no nosso estado. Uma delas, é o transporte do dinheiro dos bancos das pequenas cidades para centros com mais estrutura de segurança.

Polícia gaúcha já vem agindo no caso de Criciúma

No caso do assalto dessa semana, o trabalho da Polícia Gaúcha vem sendo exemplar. Seis dos bandidos que participaram do assalto já estão presos. A Delegacia de Polícia de Repressão a Roubos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC), está trabalhando diretamente no caso e já apresentou resultados concretos. Esse é o debate que deve ser feito. Como fortalecer a atuação desses órgãos, para que esses crimes sejam previstos com antecedência e evitemos a sua ocorrência?

Porém, para se fazer esse debate, é inevitável a discussão da estrutura das polícias gaúchas atualmente. E, dentro desse debate, inevitavelmente vamos chegar à falta de efetivo das polícias e a necessidade da contratação de novos policiais. Não se combate a criminalidade, sem policiais. E é disso que estamos falando atualmente no nosso estado. Mesmo com o menor contingente da história da Polícia Civil, os resultados são exemplares. Talvez, os comunicadores do programa Timeline, da Rádio Gaúcha, prestassem um serviço melhor à população se debatessem formas de repor o efetivo das polícias do nosso estado.

Uma lição podemos tirar desse episódio. O debate sobre a Segurança Pública é urgente. No entanto, ele precisa ser feito de forma séria, sem ser tratado como piada ou brincadeira. São vidas que estão em jogo, quando se fala de segurança pública. O jornalista David Coimbra, um contumaz defensor do Estado mínimo, deveria aprender que brincar com um assunto sério como esse, nunca acaba bem. Nesse caso, o resultado foram vários anunciantes cancelando seus contratos com o seu programa e uma péssima repercussão para sua imagem. Esperamos, sinceramente, que ele aprenda a lição e, da próxima vez que for falar sobre segurança pública, chame pessoas para fazer um debate que acrescente algo. UGEIRM SINDICATO 




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