DNIT monitora o atropelamento de fauna na rodovia e executa medidas para mitigar este impacto
A influência de cada estação do ano no comportamento dos animais é percebida pela Gestão Ambiental (STE S.A.) das obras de duplicação da BR-116/RS, entre Guaíba e Pelotas, durante as amostragens do Programa de Monitoramento de Atropelamento de Fauna. Em função da sazonalidade, os resultados variam em frequência e quantidade de espécies atropeladas na rodovia. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) utiliza os estudos para aperfeiçoar as medidas que visam mitigar este impacto, como a implantação de passagens de fauna que já estão em construção no empreendimento. Mas os motoristas também devem fazer a sua parte respeitando as placas e os limites de velocidade.
A 21ª campanha ocorreu no início de março de 2016, mas a contabilização dos dados refere-se à totalidade das amostragens realizadas de outubro de 2012 a dezembro de 2015. A equipe inventariou neste período 4977 indivíduos atropelados, sendo que 2068 eram de aves. As espécies nativas com maior incidência foram a pomba-de-bando (Zenaida auriculata), o joão-de-barro (Furnarius rufus) e o garibaldi (Chrysomus ruficapillus). De acordo com o biólogo Andrews Duarte, da STE S.A., estas espécies são granívoras, ou seja, se alimentam de grãos e sementes largamente oferecidas pelo derramamento da safra na rodovia. A tendência, porém, é que durante o outono (que começou em 20 de março) e o inverno ocorra um declínio no registro de aves atropeladas.
Os mamíferos aparecem em segundo lugar, com 1884 animais atropelados. Com 601 registros, o gambá-de-orelha-branca (Didelphis albiventris) é a espécie nativa com maior número de óbitos; seguido do zorrilho (Conepatus chinga), com 152; e do preá (Cavia sp), com 76. “Estas espécies são consideradas de ampla distribuição pelo Rio Grande do Sul. Elas possuem características de não se afugentarem com a rodovia, contribuindo para o número elevado de registros”, avalia Andrews. Além disso, esta classe não apresenta diferenças significativas relacionadas às estações.
No grupo dos répteis, por sua vez, ocorrem picos de atropelamentos na primavera e diminuição nas demais estações. Até dezembro de 2015 foram arrolados 972 répteis. A maioria era de tigre-d’água (Trachemys dorbigni), com 329 casos; seguido do lagarto-teiú (Salvator merianae), com 128; e da cobra-d’água (Helicops infrataeniatus), com 103. Andrews destaca que ao longo do empreendimento existem diversos ambientes de banhados e charcos, zonas úmidas que favorecem a presença destes animais. “As estradas também funcionam como um atrativo para este grupo pela necessidade da termorregulação (capacidade de um organismo de promover a manutenção de sua temperatura normal) e também de nidificação (construção de ninhos), ficando assim suscetível aos atropelamentos”.
Por serem animais de pequeno porte, os anfíbios recebem atenção diferenciada nas amostragens. Enquanto as demais classes são monitoradas de carro, o método utilizado para esse grupo é o caminhamento, ou seja, a equipe percorre a pé trechos pré-determinados da rodovia para identificar as espécies que são atropeladas. Já foram registrados, até o momento, 929 indivíduos. Entretanto, apenas 200 foram identificados em nível de espécie, sendo 98 deles de rã-manteiga (Leptodactylus latrans). Esse fato pode estar associado ao maior tamanho corporal da espécie, prolongando a permanência da carcaça na rodovia e, também, à maior abundância de indivíduos, já observada em outros monitoramentos ao longo da rodovia. A diferença entre o número de registros e o número de indivíduos identificados até espécie ocorre em função da rapidez na deterioração da carcaça, dificultando a identificação dos registros.
Motoristas também devem fazer a sua parte
Inseridas muitas vezes em ambientes naturais, as rodovias e áreas do entorno são utilizadas pelos animais que procuram áreas para reprodução, nidificação, alimentação, termorregulação ou refúgio. Os atropelamentos podem ocorrer por diversos fatores, os quais incluem a falta de estruturas adequadas para a travessia da fauna, insuficiência ou desrespeito à sinalização, excesso de velocidade e pouca conscientização dos motoristas. O acidente com animais coloca em risco também o ser humano. De acordo com informações da Polícia Rodoviária Federal, entre 2010 e 2015 foram registrados no trecho da BR-116/RS 184 acidentes envolvendo animais. Estes ocorreram principalmente nos municípios de Guaíba, Barra do Ribeiro e Camaquã. “Possivelmente a maioria destas colisões está acontecendo com indivíduos domésticos, sem descartar a ocorrência também com capivaras e cachorros silvestres. As ocorrências são realizadas pelos próprios condutores via internet ou pela PRF quando acarretam lesões, não sendo identificado o tipo de animal envolvido”, afirma Andrews.
Tecnologia auxilia no monitoramento
Na duplicação da BR-116/RS, a equipe utiliza o Siriema 2.0 (Software Livre de Avaliação Espacial de Mortalidade Animal em Rodovias), criado pelo Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) com apoio da STE S.A., para a avaliação do atropelamento de fauna e suporte ao planejamento de medidas mitigadoras desse impacto. De acordo com Andrews Duarte, a segunda versão do sistema oferece melhorias que qualificam o monitoramento. “Uma das novas ferramentas é o cálculo da mortalidade já com as devidas correções de remoção e detecção de carcaças, importantíssimas na quantificação de óbitos em uma rodovia”.
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