Na noite desta sexta-feira, 3, o Comitê de Avaliação e Prognóstico de Eventos Extremos da FURG divulgou o boletim 01/2024, o qual consiste em uma análise do atual evento extremo que atingiu o Estado nesta semana; bem como, contempla ainda alguns prováveis impactos na região sul, área na qual se insere o município do Rio Grande.
O documento também projeta quando a vazão de água desde o Guaíba pode chegar na cidade, período este estimado em sete dias para Rio Grande e três dias até São Lourenço do Sul.
“No entanto, esse é um evento de grandes proporções, e os volumes de águas que estão forçando a passagem de Itapuã, ao norte da Lagoa, são extremos. Além disso, a vazão de afluentes como o Camaquã já está alta, o que indica que vamos experimentar elevações no estuário mais cedo do que esse período citado”, cita o boletim.
Peculiaridades do fenômeno e possíveis impactos
Ainda no início do texto, o documento categoriza o evento extremo como “de complexa análise”, em razão do caráter técnico-científico envolvido. Um destes aspectos reside no ineditismo do fenômeno, uma vez que não existem parâmetros ambientais conhecidos para referência. Outro fator é a falta de sistemas observacionais complexos e diversos o suficiente para permitir que modelos avançados possam realizar qualquer tipo de previsão precisa.
Segundo os relatores, para entender a área de possível inundação, é preciso entender que a conformação do terreno nas margens é crucial traçar estimativas, ou seja, a topografia do entorno inundável. Numa planície costeira - como a que estamos situados - para que se tenha alguns centímetros de elevação no corpo d’água são necessários grandes volumes. Isso é diferente dos vales dos rios no norte do estado, por exemplo.
Um projeto entre a FURG e a Prefeitura Municipal do Rio Grande permitiu nos últimos anos a construção de um modelo de terreno de alta precisão, o que possibilita prever as áreas que serão inundadas de acordo com o nível atual da água no estuário, mais detalhes sobre este prognóstico podem ser visualizados por meio de imagens ilustrativas no documento disponível ao fim desta matéria. O nível que serve de referência para esse modelo está materializado num instrumento instalado no Centro de Convívio dos Meninos do Mar (CCMAR-FURG). O modelo foi testado e validado no último evento extremo, datado de setembro de 2023.
De acordo com o documento, o volume de água que pode entrar no nosso estuário ao norte seria originado de toda a bacia do sistema de lagoas Patos-Mirim. O volume que deixa o estuário para a plataforma continental, no Oceano Atlântico, o faz pela estreita passagem entre os Molhes da Barra, pelo Canal de Acesso do Porto do Rio Grande, e depende da direção do vento atuante.
O Boletim estima que, em um nível médio de inundação normal, o estuário comporte algo em torno de 1.250 milhões de metros cúbicos de água. Para a máxima de inundação normal, aproximadamente 50 cm acima dessa média - e que ainda não cobriria as áreas urbanas - seria necessário um acúmulo de mais de 200 milhões de metros cúbicos no volume comportado no estuário.
Ainda que uma série de ambientes ao redor da cidade do Rio Grande, em especial aquelas áreas próximas à orla, recebam um considerável volume de água, antes desse fenômeno, as áreas no entorno das ilhas do estuário, os baixios e os banhados também são inundadas; essas áreas em cotas limites comportam boa parte do volume da água, aguardando o fluxo natural para o oceano, e salvaguardando as nossas estruturas urbanas.
Mesmo com essas informações, não é possível fazer previsões precisas?
Ainda que tenhamos acesso à um considerável conjunto de informações, justamente pela falta de monitoramento e medições sistemáticas dos volumes que se deslocam do norte da Lagoa dos Patos e os volumes que chegam pelo Canal de São Gonçalo, não é possível acessar com a devida precisão os cenários que podem vir a ocorrer. “Também não medimos os volumes que saem pelos Molhes da Barra, nem conhecemos adequadamente o processo que impõem maior ou menor vazão de descarga, exceto por alguns parâmetros elementares, como o nível do mar na costa”, complementa o Boletim.
Considerações
Com base nos dados apresentados e no que os relatores do Comitê observam desde o início da passagem do evento extremo – o que engloba a medição do nível do estuário em três pontos, as previsões de vento e chuva dos modelos globais para os próximos sete dias, e as medidas de nível no Delta do Guaíba -, é possível afirmar que a probabilidade do nível da água na orla das cidade de Rio Grande e São José do Norte atingir os limites do evento de setembro de 2023 é muito alta; podendo ultrapassar este último caso a condição de ventos do quadrante sul se intensifique.
O documento indica, ainda, que os prognósticos de elevação dos níveis da laguna e do estuário na escala de metros é irreal para esse evento, principalmente pela sua enorme área e o fato de estarmos situados em uma região plana. “O tipo de elevação que se observa nas calhas dos rios que geraram efeitos catastróficos em outros municípios são de outra proporção, em função da topografia acidentada dessas regiões do estado”, corrobora o documento.
Quando podemos esperar os impactos?
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