Por: Sérgio Cruz Lima,
Em janeiro de 2017, prefeitos e vereadores eleitos no corrente ano assumem os mandatos conferidos pelo povo. Antes, porém, que os novos mandatários sejam empossados em seus cargos, gostaria de ver tremulando entre eles alguma faixa saneadora, talvez uma espécie de vocativo contra a corrupção.
É uma lástima que esse negócio de eleição brasileira seja sempre assim tão competitivo, tão caótico, tão extenuante quanto uma maratona olímpica. Nunca se viu tanta disputa por uma cadeira nos plenários da dita "representação popular". A cada eleição legislativa cresce, e muito, o número de candidatos que procuram uma boquinha bem remunerada. Na última eleição municipal, em outubro, mais de 20 mil sôfregos pretendentes consolidaram a pergunta que não quer calar: "Afinal, o que há de tão atraente nessas cadeiras legislativas que justifique um investimento às vezes milionário?".
As cidades cresceram. Os candidatos e os eleitores se multiplicaram. Hoje já não se pode reunir os representantes do povo ao redor de uma miniassembleia, como na antiga Eclésia, na ágora ateniense, onde possivelmente tenha nascido o parlamento, no século V antes da era cristã. Atenas era um espaço social modesto, uma polis, a cidade-estado grega, cujo território não ultrapassava parte da área urbana de Pelotas.
A democracia grega foi uma instituição peculiar. A ágora cabia no Café Aquarius e o eleitorado enchia, no máximo, uma camioneta Kombi. As mãos a apertar eram poucas. Pouquíssimas! As crianças a beijar simplesmente inexistiam; elas eram confinadas no gineceu. Péricles, o maior político ateniense, eleito e reeleito estratego, sem ter beijado crianças, terá apertado um número muito menor de mãos do que um candidato a vereador em Capão do Leão.
Mas - por Deus! - não devemos chorar pelo país que emergiu das urnas ou o que ressurgirá em 2017. A democracia, caro leitor, não é somente uma eleição: a democracia é um processo, com suas teses e antíteses.
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